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- Clássicos #01:Claudine...! Um Homem Em Um Corpo De Mulher
Posted by : Unknown
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Nada melhor que, render as justas homenagens àqueles que
foram os propulsores do que entendemos hoje como yuri, não é mesmo? Por isso,
passarei a comentar, vez ou outra algumas series clássicas. E não poderia
começar melhor. Claudine...! como todos vocês devem saber, é um clássico yuri,
ambientado no inicio do século 20, na França, escrito e desenhado por Ryoko
Ikeda, e lançado em 1978. Como já é característico da autora, de usar o
argumento de belas garotas, que se parecem e agem como garotos, por diversos
motivos. Mas apesar disso, o único mangá em que Ryoko Ikeda realmente
representou uma lésbica, foi em Oniisama
E... – Afinal, de suas histórias mais conhecidas, Oscar (de Versalles no Bara) e Claudine, se
viam como homens.
E o escopo de Claudine...! é esse, o drama de ser
atormentada, por se sentir homem e estar presa num corpo feminino. Claudine
Montesse, até os 8 anos, realmente acreditava ser um garoto, se portando e
agindo como tal. O que faz com que sua mãe a leve ao psicólogo pela primeira
vez. Dos 4 filhos da família Montesse, Caudine é a mais nova e única garota.
Seu pai, Auguste De Montesse, que nutria um grande desgosto por seus 3 filhos
não terem lhe puxado a aparência, se encanta com Claudine, que nasceu com todos
os seus traços característicos, assim como gostos e atitudes. Ao olhar o
character designer de Claudine, nota-se que ela segue uma linguagem nobre, com
rosto pontudo, pele branquíssima e olhos claros, cabelos loiros e toda uma
postura aristocrática. Auguste a admira tanto, que ele a considera como um
filho homem e lastima o fato de Claudine ter nascido em um corpo feminino. Para
ele e parte dos personagens, Claudine nasceu com um corpo de mulher, por puro
engano ou capricho divino.
Claudine é amada e admirada por todos por sua inteligência, elegância
e porte físico. Ela é um verdadeiro príncipe, porém seus problemas começam
quando ela se apaixona pela primeira vez por uma garota. Ainda que ela seja
correspondida, lhe é negada pela família esse direito. Afinal, por mais que ela
se vista e se porte como um homem, Claudine continua sendo uma mulher. É então
que sua mãe, a leva pela segundo vez ao mesmo psicólogo, que acaba se tornando
um personagem recorrente e peculiar dentro da história. A partir dai, a vida de
Claudine se transforma em uma verdadeira montanha russa, chegando a se
apaixonar por outras mulheres e tendo que lidar com a dor da rejeição, ao
sempre ouvir a frase; “...mas, você é uma mulher...!”. Em
meio a isso, ela ainda tem que lidar com outros problemas, como traições e
segredos traumáticos escondidos em sua infância, em que Ryoko deixa subtendido
que pudesse ser o motivo dela se ver como um garoto – Claudine flagra o pai,
abusando sexualmente de um garoto, o que talvez pudesse ter sido o estopim para
ela começar a se ver como um, para que pudesse ser amada e aceita pelo pai –,
mas isso é negado dentro do contexto da história.
Durante sua vida, Claudine enfrentou a resistência da
sociedade, se deixando envolver afetivamente com outras garotas, mas sempre
tendo um final triste, que a fazia se revoltar pelo fato de ter nascido mulher.
Ela até tenta não se envolver mais com nenhuma garota, por medo de se machucar
novamente, mas no clímax da história, acaba se apaixonando novamente, dessa vez,
longe de sua cidade e cursando uma universidade, ela acaba conhecido e caindo
de amores por Sirene Berge, que a corresponde totalmente e assim, passam a
viver como amantes e alimentando aquele amor secretamente. Mas tudo desanda
quando Sirene acaba se apaixonando pelo irmão mais velho de Claudine, que não
encontra mais forças para se reerguer novamente.
Comentários:
Claudine...! é conhecido por ser um mangá trágico e dramático,
aliás, como boa parte dos mangás da década de 70 e 80, principalmente no que se
diz respeito a homossexualidade. Foi nessa década que começaram a aparecer características
yuris em diversos mangás, visando o conflito dentro da trama (ao contrário de hoje, que raramente temos
conflitos que realmente abordam a homossexualidade, ficando mais em problemas
amorosos das heroínas), o choque, e o escândalo. Claro que, mesmo com a
influência da literatura, o fato daquela sociedade não ver o relacionamento
entre pessoas do mesmo sexo como algo natural (apesar de ainda hoje, a sociedade como um todo não ver tal questão
como algo natural, é bem mais aceito), acaba tendo influência como àquelas
mangakas encarariam o assunto; sempre partindo de uma visão pessimista. Com
isso, era bem comum que essas histórias tivessem um desfecho trágico e triste,
com as personagens morrendo tragicamente ao fim da trama.
O transexualismo e travestismo passou a se tornar protótipo de
vários mangás shoujos, com personagens inspiradas nos padrões estabelecidos
pelo teatro de Takarazuka. Apesar da negação de Ikeda, de se inspirar em livros
de psicologia para desenvolver suas histórias, ela mostra em suas séries o
gosto em explorar suas personagens que seguem o estereotipo do bishounen, e seus
sentimentos através da transexualidade. Apesar de Claudine...! ser uma história
curtinha, nos oferece elementos suficientes para que possamos apreciar. As
conversas de Claudine com seu psicólogo são sempre muito interessantes. Ele
nota uma inteligência incomum em Claudine, e por isso sabiamente adota uma
postura mais madura para com ela, a tratando com sinceridade e confessando que
esta, lhe desperta um grande interesse como profissional. Seu veredito final, é
que Claudine é um indivíduo transgênero (pessoas
que são do sexo masculino ou feminino, mas se sentem como um membro do sexo
oposto), e teve que viver com esse estigma até o fim de sua curta vida, em
uma sociedade ainda anacrônica.
Toda a explicação
para a transexualidade que se pensava até em 1978 é mencionado em Claudine...!,
assim como a crença popular de que um trauma de infância ou maneira como foi
criada, pudesse ser o elemento que faz com que crianças pudessem se ver como
sendo do sexo oposto. Flagrar seu pai, fazendo sexo com um garoto, quase que de
sua idade, poderia ter causado nela o impacto de querer se portar como um homem,
para que ela não fosse traída (abandonada),
assim como sua mãe? O fato dela desde nova, ter sido tratada como um garoto
pelo pai, sendo levada para cavalgar e pra caçar? Isso faz parte da
configuração da história, mas a própria Claudine, define já ter nascido assim.
Conclusão
Todas essas questões são realmente pertinentes e
interessantes, mas apenas o fator histórico é o suficiente para fazer que
Claudine...! seja uma leitura recomendada? Claro que não, uma boa história não
pode se prender e se ver refém do fator histórico e social, ele precisa
funcionar como entretenimento sólido. Felizmente, Claudine...! não é apenas
masturbação pseudo cultural e nos brinda com uma bonita história. É um bom
romance, moldado no melodrama que é tão típico nos shoujos daquela época. Ikeda
pega elementos tão clichês (atualmente)
e desenvolve habilmente, fazendo que o leitor se importe com Claudine e apesar
de representar uma visão pessimista para a homossexualidade, ao mesmo tempo, é
peculiar ao ser tão verissímil em alguns aspectos.
Ano: 1978
Autora: Ryoko Ikeda
Editora: Shueisha
Revista: Margaret
Demografia: Shoujo
É um mangá que recomendo 100%.
A trama é belíssima e muito bem desenvolvida, Claudine é encantadora. Apesar de toda tragédia que envolve esse cenário, nunca esqueci essa história.
Nota 10!
Gostei dos comentários, fiquei mto animada para ler esse mangá,ja é prioridade :)