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- [One-shot] Vínculo - Neon Genesis Evangelion Fanfiction
Posted by : LKMazaki
quarta-feira, 22 de abril de 2015
Olá a todos!
Depois de um longo período apenas trazendo textos opinativos ou de indicação para o blog enfim estou cá para retomar a parte literária da programação do KaS. A começar por este segundo one-shot focado no "par" Asuka e Mari, de Evangelion. Depois que conseguir concluir o (pesadelo de terminar em um mês) segundo capítulo do Entre Lírios, a minissérie shoujo-ai em quadrinhos que estou produzindo para a Revista NUPO espero trazer mais textos interessantes (mais voltado aos originais) aqui para vocês.
Por hora, façam uma boa leitura e deixem suas impressões nos comentários ou em qualquer outra via de contato que disponibilizamos à vocês :)
Aviso-legal: Neon Genesis
Evangelion não me pertence. Esta é apenas uma obra de fã, sem fins
lucrativos.
Vínculo
Neon
Genesis Evangelion Fanfiction by LKMazaki
Parte
1
Ainda
era madrugada e o silêncio imperava na frota composta por cinco
dezenas de navios. Nos corredores submessos da Cathas o costumeiro
vai e vem de pessoal e suprimentos era substituído pelo zunir baixo
e constante da tubulação.
Em
uma das inúmeras cabines, porém, eram os sons incontidos, nascidos
de um dos mais primitivos instintos humanos, que preenchiam o ar. O
espaço diminuto e úmido, de paredes precariamente forradas para
esconder o metal que compunha toda a embarcação, era tomado quase
inteiro por uma cama simples, que rangia à menor pressão. Aquele
era o palco da dança dos dois corpos, entregues à eternidade que
lhes era concedida nos momentos daquela fúria carnal.
E,
depois de mais alguns momentos de batalha furiosa, o ápice e a
vindoura paz sobreveio para aquelas criaturas amaldiçoadas. Seus
corpos permaneceram unidos em um aconchego natural e suas mentes
vagaram por caminhos tranquilos, sem pressa, até por fim alcançar o
nível dos sonhos.
Nem
Asuka nem Mari se preocuparam com o sentido por detrás daquele ato.
Não havia qualquer necessidade de tal tolice. Poderiam aparentar ser
crianças, mas suas almas já haviam aprendido o quão simples e
confortante pode ser o toque apaixonado de outro corpo.
Já
fazia nove anos desde que a Wille assumira para si a função de
carregar a esperança do que restava da Humanidade. Os planos para a
construção de uma nave capaz de enfrentar a série de Evas Mark
criados em massa pela Nerv estavam em fase avançada de planejamento.
Muito se falava a respeito da Wunder, mesmo que ainda faltasse algo
fundamental para que o sonho humano de poder lidar com seus algozes
fosse tangível.
Era
preciso saber onde estava o Evangelion Unidade 01.
A
ideia era utilizar o núcleo da criatura, dotada de um motor SS desde
o primeiro quase-Terceiro Impacto, como fonte de energia principal
para essa nave. Todos os cálculos indicavam que não apenas seria
possível lutar como até mesmo um motor antigravidade estava sendo
estudado.
O
futuro. Uma esperança de retomar a vida após os dois desastres que
haviam reduzido a população humana em todo o globo para menos de
dois porcento do que fora quando Tokyo-3 ainda era habitável.
Enquanto
esse dia não chegava só restava à Wille fugir e se esconder,
graças aos esforços das duas crianças amaldiçoadas. As pobres
criaturas que pareciam nunca se importar em fazer mais um sacrifício
pelo bem do povo de Lilith.
As
mesmas crianças que recentemente haviam descoberto uma na outra uma
fonte de consolo e conforto contra a realidade brutal que jamais
poderiam esperar.
—
B-bom
dia, senhorita piloto da Unidade 02 — cumprimentou a sargento
recém-promovida, Suzuhara Sakura.
Era
oito da manhã e o refeitório da Cathas estava praticamente vazio.
— Pode
me chamar de Shikinami, sargento. — respondeu Asuka, com uma falta
de emoção quase forçada.
—
Claro,
Shikinami-san! — esganiçou Sakura, ainda igualmente nervosa. —
Eu apenas vim lhes trazer o relatório dos reparos das Unidades 02 e
08 e. . . E também passar-lhes os programas de treinamento dessa
semana.
— Sim,
claro. — concordou a ruiva, displicente. Ela foi até um
dispensador antiquado onde se acumulavam algumas bandejas fundas,
lacradas, e uma dezena de copos recicláveis, pegando um par de cada
e levando-os para a mesa mais próxima. ― Achei que você era da
área de saúde.
― N-Na
verdade sou sim, mas devido a falta de pessoal. . . ― explicou a
jovem, um tanto constrangida, como se fosse falha sua aquela falta de
estrutura da Wille.
― Já
entendi. ― disse Asuka, para não complicar mais a outra.
— Er.
. . Makinami-san já deveria estar por aqui. — comentou Sakura,
olhando para as duas entradas enquanto Asuka foi até uma máquina
automatizada para encher os copos de café. — Me pergunto se
aconteceu alguma coisa. . .
— Não
se preocupe, a quatro-olhos sempre enrola com qualquer besteira. —
disse Asuka, voltando para a mesa e sentando.
— Que
maldade, Princesa! — reclamou Mari, com um tom pedante. A piloto
vestia, assim como a ruiva, seu plugsuit parcialmente encoberto por
uma jaqueta. — Eu disse que era algo importante!
— B-bom
dia, Makinami-an! — cumprimentou Sakura, fazendo uma breve
reverência. — Estou aqui para passar o programa da semana.
— Oh,
sim sim, Sargento Gracinha. — respondeu a morena, sentando
imediatamente à esquerda de Asuka e catando para si uma bandeja e um
copo de café
—
Gracinha?!
— engasgou Sakura, a voz saindo mais aguda do que gostaria.
—
Blergh!
Que amargo! Princesa! — reclamou Mari, com uma careta ao provar a
bebida.
— Ah,
foi mal. — disse Asuka, disfarçando um sorriso satisfeito com uma
torrada que acabara de retirar da sua bandeja.
— Er.
. . Vamos ao relatório então. — interveio Sakura, recobrando a
seriedade com tanta firmeza que chamou a atenção das pilotos que
não mais lhe interromperam enquanto passava todas as informações
designadas.
Uma
hora mais tarde, Asuka tinha a confortável sensação de estar
envolta pelo líquido tão familiar que era o LCL do seu Entry Plug.
Apesar de ser sua capsula original ela estava em um corpo de teste,
feito com apenas algumas partes de um Eva verdadeiro. O treinamento
simulado de combate acontecia todos os dias, com ou sem a
disponibilidade de ambos os pilotos.
Como
de costume um miado incessante chegava aos ouvidos da ruiva enquanto
ela tentava se concentrar em verificar todos os parâmetros do
sistema para dar início à operação:
― Que
irritante. ― comentou, falando entre dentes.
― Oh,
não gostou dessa música, Princesa? Eu posso pensar em outra. ―
disse Mari, sua voz chegando pelos fones que integravam o capacete do
simulador.
― Ok.
Carregando cenário Alpha 27. ― interpôs Koji Takao, que era quem
estava operando e supervisionando o treinamento naquela manhã. Com
alguns toques no computador o programa foi carregado e Asuka viu
diante de si uma Tokyo-3 quase intacta, tal qual era antes do
Terceiro Impacto. A algumas dezenas de metros estava a Unidade 08,
segurando uma metralhadora padrão.
― Ei,
Princesa. ― começou Mari e a cabeça do Evangelion rosa virou na
direção da Unidade 02. ― Que tal se tentássemos algo diferente
dessa vez? Essa já vai ser a sétima tentativa de superar a
simulação 27. . .
―
Diferente? Que tal se
você não ficar no meu caminho enquanto eu derroto o Eva? Se não
tivesse me atrapalhado todas as vezes nós já estaríamos no estágio
50 desse programa! ― sugeriu Asuka, a irritação brotando na boca
do estômago.
―
Adoraria ficar na
retaguarda, Princesa. Mas não basta eu fica pra trás, te dando
cobertura. Você tem que saber se posicionar para que a coisa
funcione. ― argumentou Mari.
― Bom,
essa era pra ser a ideia, garotas. ― falou Takao. ― Se vocês não
estudarem as táticas combinadas jamais poderemos vencer a série
Mark.
― Ah,
cala a boca e coloca essa simulação pra rodar. ― esbravejou a
Segunda Criança.
E,
é claro, elas foram derrotadas mais uma vez. A Unidade 02 avançou
com tudo na direção do Eva, uma pequena criatura com dezena de
pequenos tentáculos-laser, assim que ele surgiu no cenário, porém
eu Anti-AT Field era muito eficaz, forçando-a a recuar e recomeçar
a investida. A Unidade 08 tentou avançar, mas as habilidades de
combate direto de Mari não chegavam aos pés das da outra, o que
custou a mobilidade de ambas as pernas do Eva rosado nos primeiros
dois minutos. Mari ainda tentou ser um suporte para Asuka, usando a
metralhadora, porém a ruiva não seguia nenhum padrão de
movimentação, tornando impossível para Mari mirar e atirar com
qualquer precisão. Em quatro minutos, estava tudo terminado.
Asuka
tirou o capacete de simulação, ainda respirando com dificuldade.
Mesmo sendo um programa, as sensações de dor e medo eram tão
fortes quanto na realidade. O Eva criado por simulação, baseado
nos dados coletados até então da nova série da Nerv, tinha
perfurado de lado a lado a cabeça da Unidade 02 para finalizar o
combate e Asuka ainda sentia uma estranha sensação de agonia vindo
de dentro do crânio, o que chegava a causar certa náusea.
Levaria
uma hora para que todo o programa fosse carregado do início mais uma
vez, então as pilotos saíram dos plugs para aguardar. Asuka saiu a
passos determinados para fora da imensa sala de treinamentos, no
coração da Cathas, bufando. Foi até uma propícia máquina de
refrigerante e socou o botão do café gelado. Quando a lata
solicitada caiu no dispensador, porém, foi uma mão coberta pelo
tecido anatômico do plug suite rosa que alcançou primeiro o objeto.
Asuka
levantou os olhos e viu a expressão sempre sorridente de Mari quando
esta abriu o café gelado e tomou um gole. Ao olhar de volta para a
máquina, para a surpresa da ruiva, o botão da bebida desejava havia
mudado de cor, indicando o término do estoque da mesma. Asuka
apertou os dentes e virou seu único olho saudável para a outra:
― Sabe,
Princesa, você não devia dificultar tanto nos treinamentos. ―
disse Mari, parecendo não perceber a irritação da outra. ― Se
continuarmos assim vamos ser esmagadas pelos Evas malvados da Nerv.
― Eu
não me importo com isso. ― rebateu a ruiva.
― Não.
. . ― riu-se Mari, dando uns socos de leve nos joelhos, a região
onde seu Eva havia sido destruído na simulação. ― Essa é a pior
mentira que já ouvi de você, Princesa.
― Hm?
― Asuka ergueu as sobrancelhas, pega de surpresa.
― Se
você não se importasse não teria chegado até aqui. ― afirmou
Mari, fintando a lata em suas mãos. ― Você é uma medrosa, assim
como eu. Você faz qualquer coisa para saber que viverá mais um dia.
A
ruiva não respondeu. Ao invés disso circundou a outra piloto e
sentou no banco de madeira que havia do lado da máquina de
refrigerantes. Deliberadamente Mari a seguiu, sentando imediatamente
ao seu lado:
― Eu
sei que estou sendo idiota. ― disse Asuka, depois de algum tempo de
silêncio. ― Não só por mim, mas por toda a Wille. Estou agindo
como se ainda tivesse os mesmo quatorze anos de antes.
Mari
nada disse, apenas bebeu mais um gole do café gelado. A ruiva fintou
as próprias mãos sobre os joelhos, soltando o ar numa quase risada
expelida.
Seu
corpo ainda tinha os mesmo quatorze anos, mas sua alma não. Ela
havia passado por muita coisa desde o quase-Terceiro Impacto e se
tornara uma pessoa diferente. A solidão e o peso da responsabilidade
que carregava a haviam moldado para uma pessoa que aparentava muito
mais seriedade, quase indiferença, em tudo. Ainda haviam os momentos
em que se permitia ser a mesma birrenta de antes, mas esse alívio
era cada vez mais raro em meio àquela guerra sem fim pela
sobrevivência:
― Ah,
eu tinha esquecido! ― exclamou Mari, quebrando o silêncio. A
morena começou a vasculhar os vários bolsos da jaqueta. ― Mais
cedo aquele café amargo que você me deu até me fez esquecer o
porquê de ter me atrasado. Aqui! Achei! ― alegrou-se ela, tirando
um algo de um dos bolsos e mostrando-o sobre sua palma.
―
Botons? ― questionou
Asuka, olhando para os dois pequenos enfeites. Um deles parecia um
alvo em tamanho miniatura e outro tinha uma caricata caveira.
― Isso!
Esse daqui é dos meus tempos na Força Aérea Britânica. ―
respondeu Mari, indicando o com aparência de alvo.
― E?
― questionou a ruiva, sem entender o motivo de divertimento da
outra.
― São
pra você, Princesa! Quando lembrei deles tive certeza de que iriam
combinar com o outro presente que te dei.
―
Aquela boina brega que
parece ter orelhas de gato? Você tá brincando né. . .
― Mou.
. . Você é tão cruel, Princesa. . . ― chorou-se a morena,
parecendo quase ofendida. Asuka olhou de novo para os botons. Com
outro sorriso suspirado ela pegou os presentes da mão ainda aberta
da outra.
― Fazer
o que. ― disse, prendendo os presentes na própria jaqueta, na
frente do bolso sobre seu peito, do lado direito. Mari pareceu
jubilar-se com aquilo. Asuka nada disse a mais e as duas ficaram em
silêncio por mais algum tempo.
―
Princesa. . . ― chamou
Mari depois de algum tempo. Sua voz era mais baixa e menos dengosa do
que sempre, o que chamou a atenção da ruiva. Quando esta ergueu os
olhos viu que os da morena estava voltados para si. ― Você sabe
que pode confiar em mim. Nós podemos fazer isso juntas.
Asuka
piscou. Mari estava certa, mas o que ainda existia de orgulho teimoso
da ruiva a impediu de admitir verbalmente. Em vez disso, ela se
aproximou da outra. Sentiu o cheiro do café gelado vindo da boca de
Mari e fechou o olho com a intenção de completar o gesto.
Porém
o soar do sistema comunicação estridente se fez ouvir, fazendo as
duas recuarem pelo reflexo. Seguido aos três sinais contínuos
sobreveio a voz de alerta:
“Atenção
todos da frota: O segundo anjo artificial foi localizado a pouco mais
de cinquenta quilômetros ao sul. O nível de alerta passou para
Amarelo 2. Repetindo. . .”
― Essa
não, acabou a folga. ― miou Mari.
― Vamos
lá, Quatro-olhos. Eles precisam de nós. ― disse Asuka,
levantando. ― Vamos torcer para ainda não ser dessa vez que
precisemos enfrentar eles diretamente.
Apesar
da frota não ter sido percebida pelo Eva, identificado
provisoriamente como Mark 02B, toda a frota da Wille permaneceu em
estado de atenção máxima. Pararam com a viagem e prepararam todas
as forças de ataque. As pilotos passaram a revesar-se em turnos de
doze horas de vigília, dentro dos Evas, preparadas para partir para
combate imediatamente, caso necessário. O turno diurno era de Asuka
e o noturno de Mari. Apesar de terem criado o hábito de manter um
canal de comunicação direto e privado entre as si, era fato que não
mais se cruzavam pelos corredores da Cathas.
Mais
de uma semana se passou com o alerta em vigor e um sentimento antigo,
em uma roupagem completamente nova se apresentou para Asuka: a
carência.
Durante
boa parte do tempo em que estava na Unidade 02 Mari estava dormindo.
Era quando ela aproveitava para estudar os diagramas de estratégias
conjuntas que, tolamente, antes tentara ignorar. Durante o tempo em
que estava fora do Entry Plug não havia ninguém com quem pudesse
conversar. Todos estavam ocupados ou então assim se faziam parecer
sempre que estava olhando. A verdade é que mesmo sendo dependentes
delas, as pessoas no geral tinham muito receio de se aproximar das
“crianças amaldiçoadas”.
Entre
idas e vindas ela e Mari estavam sempre conversando. A morena
conseguia falar por horas de qualquer trivialidade, algumas vezes
levando Asuka a pegar no sono durante o seu turno de folga. Claro que
também falavam sobre coisas sérias. Mari cada vez mais abria o seu
passado e todos os conhecimentos ocultos que possuía sobre a Nerv,
Seele e sobre o Projeto de Instrumentabilidade Humana. Asuka
conseguia ter vislumbres de uma seriedade que a outra piloto parecia
se esforçar ao máximo para jamais deixar transparecer.
Porém
mesmo toda aquela proximidade não era o suficiente para preencher o
vazio que Asuka sentia ao deitar na sua cama. As noites eram
intermináveis. Ela desligava o comunicador para que Mari não
suspeitasse que a insônia a estava fazendo dormir cada vez menos.
E
foi graças a uma dessas horas cada vez mais raras de sono que ela
estava acordada quando, no começo da terceira semana de vigília, os
auto-falantes da Cathas anunciaram que a ameaça havia enfim se
afastado o bastante. Estava deitada sobre seu lençol já encardido
pelos anos de uso e ali permaneceu por uns instantes, em um estado
quase de choque de quem mal podia acreditar no aviso que estava sendo
repetido várias vezes antes de, por fim, cessar.
O
coração de Asuka pulava no peito. A ansiedade a fez sentar para
tentar normalizar a respiração. Sem pensar muito, levantou. Talvez
fosse parecer uma criança mimada se fosse correndo para onde a
Unidade 08 estava, mas. . .
―
Princesa! ― berrou
Mari, abrindo a porta da cabine da ruiva com um puxão. ―
Finalmente!
Antes
que distinguisse direito a figura de Mari, esta avançou sobre ela
envolvendo-a em um abraço de quebrar as costelas. Por instinto Asuka
tentou desvencilhar-se, em vão, e as duas caíram sobre a cama, que
reclamou alto ao receber seus pesos somados. A porta da cabine voltou
ainda rápido para o lugar, batendo e fechando com certa força:
―
Q-Quatro-olhos! Você se
teletransportou da estação pra cá?! ― questionou Asuka, tentando
sentar-se mesmo com o peso da outra sobre si, sem muito sucesso.
― Quase
isso, Princesa! Quase isso! ― exclamou Mari, um sorriso débil
enchendo seu rosto. ― Eu estava ficando louca sem poder ver essa
sua linda expressão feroz de perto!
―
Besta. ― rosnou Asuka,
levando uma das mãos para tampar a cara da outra, que miou alto em
protesto, apesar de aparentar igual diversão. Na verdade a ruiva
estava mais era tentando disfarçar o nó que apertava a sua garganta
e fazia umedecer seus olhos do que qualquer outra coisa.
Alguém
sentia a sua falta:
―
Princesa!
― protestou Mari quando enfim a outra conseguiu livrar-se do abraço
matador. Asuka sentou na beira da cama ficando de costas, de braços
cruzados, tentando recuperar o ar de superioridade.
― Não
sei por que está tão feliz. Teve todos esses dias para conversar
com a sua Sargento Gracinha nos turnos de folga. ― alfinetou a
ruiva, olhando para a outra de esguelha. Mari ergueu as sobrancelhas
àquela provocação.
―
Princesa. . . É você
quem é uma gracinha quando fica com ciúmes. ― disse a morena, com
um mais um sorriso incontido. Sorriso este que quase se perdeu quando
um cascudo acertou em cheio o alto da sua cabeça.
Asuka
desviou o olhar, encarando a parede como se fosse a coisa mais
interessante do mundo. Mari a deixou quieta por um tempo,
aproveitando para acarinhar o local atingido antes de também
sentar-se. O clima foi amenizando e logo o silêncio se tornou
incomodo:
― Você
sabe que não existe mais ninguém no mundo, Princesa, de quem eu
possa estar perto. ― disse Mari, com aquele raro tom sério. ―
Nós somos as crianças amaldiçoadas. As pessoas não nos querem por
perto a não ser para pilotar.
Asuka
não respondeu de primeira, porém seus olhos se desviaram da parede
e acabaram repousando sobre o grosso encadernado de estratégias, que
acabou indo ao chão no meio da confusão:
― Mas
ainda assim nós lutamos por eles. ― disse.
―
Lutamos porque não
sabemos viver de outro modo. E também porque não queremos morrer. ―
argumentou Mari, seguindo o olhar da outra e fintando o volume caído.
― E
temos alguma esperança de que, algum dia, eles parem de se afastar.
― contrapôs a ruiva.
― Mesmo
sabendo que isso não acontecer. Que vai ser sempre assim: nós e
eles.
Asuka
voltou seu olhar para Mari que lhe retribuiu com um mínimo esgar de
sorriso. Quando seus olhos se encontraram não precisaram mais de
palavras para se entender. A ruiva desfez a sua postura de defesa e
se aproximou. Mari se deixou derrubar sobre o colchão, sentindo o
calor do corpo de Asuka chegar até a sua pele. A morena fechou os
olhos e inspirou o perfume dos cabelos arruivados da outra e não se
surpreendeu quando os seus lábios foram tocados. As pilotos trocaram
beijos carinhosos, apaixonados, por longos minutos. Quando seus
rostos se afastaram, foi apenas alguns centímetros:
― Vamos
vencer aqueles Anjos, juntas. ― disse Asuka.
― Eu
sei que sim, Princesa.
***
Parte
2
A
agitação nos andares superiores da Cathas chegavam aos níveis
submersos através do tremor dos passos e das armas sendo preparadas
para a batalha. Eram poucos os que ainda restavam no interior dos
navios. O sinal sonoro de alerta era baixo, mas constante, enchendo o
ar da atmosfera tensa de preparação para um enfrentamento.
Suzuhara
Sakura atravessava os corredores quase correndo. Seus olhos iam para
todos os lados quando passava pelo encontro de dois corredores. Sua
ansiedade era tanta que ela quase soltou um berro em exclamação
quando enfim viu duas pessoas correndo na sua direção:
―
Makinami-san! Onde você
estava?! Eu estou tentando achá-la a mais de meia hora! ―
exasperou-se, ofegante. Mari e Asuka trocaram um olhar quase
imperceptível antes da piloto da Unidade 08 abrir um sorriso de
divertimento.
― Você
me procurou na minha cabine, não é? Digamos que eu decidi passar a
noite fora, Sargento Gracinha. ― disse.
― Fora?
Mas. . . ― começou Sakura, porém o senso de urgência sobreveio à
sua curiosidade. ― Enfim, eu precisava informar que vocês duas
foram chamadas na ponte de comando dentro de. . . Agora seria dentro
de dez minutos!
― Nós
sabemos. ― interveio Asuka. ― Sukiyama-san veio à minha cabine
para informar a mesma coisa.
― Nós
estamos correndo para lá agora mesmo, Sargento Gracinha. Não
precisa ficar preocupada! Eu até defendo você se a Capitã Suprema
vier pedir explicações.
―
“Capitã Suprema”?
Está falando da Maya-san? ― perguntou Suzuhara, abismada com a
capacidade de criar apelidos esdrúxulos.
― Vamos
lá, Quatro-olhos. ― chamou Asuka, apressando o passo.
― Ok,
Princesa!
Alguns
minutos depois as duas pilotos enfim chegaram às escadas de ferro
que levavam para a ponte de comando improvisada do Cathas. À porta
da sala a capitã Ibuki Maya, encarando-as com uma expressão
mortífera:
― Onde
vocês estavam que demoraram tanto? Temos ordens imediatas! ―
ralhou ela enquanto Asuka, com a cara fechada, e Mari, com uma
expressão apaziguadora, subiam até o nível superior.
―
Calma, calma, Senhorita
Capitã Suprema. ― disse a morena, corajosamente extendendo o braço
e dando um tapinha de leve no antebraço direito da outra. ― Nos
foi informado de que tinhamos quarenta minutos para acordar e nos
apresentarmos. Bom, estamos bem em cima do horário.
― Está
certo. Entrem de uma vez. ― disse Maya fintou o rosto coberto por
uma culpa infantil da piloto da Unidade 08, suspirando em derrota.
― Se
você não aprender a relaxar mais vai acabar espantando a Doutora
Akagi do seu dormitório, Capitã. ― murmurou Mari, pelo canto da
boca, enquanto Asuka já entrava na sala de conferência. A mulher de
cabelos curtos voltou-se para a piloto com as sobrancelhas erguidas,
mas Mari apenas lhe deu uma piscadela e desapareceu pela entrada.
Na
ponte, ou assim chamavam, estava a Coronel da Wille, Katsuragi
Misato, acompanhada da Engenheira-chefe, Akagi Ritsuko, e dos
principais operadores de dados da corporação, também vindo do
antigo corpo de funcionários da Nerv, Hyuga Makoto, Aoba Shigeru. Na
mesa holográfica no centro da sala estava um mapa dinâmico sendo
exibido. Uma animação repetida em loop que se tornou facilmente
compreendida pelas pilotos quando se aproximaram:
― Que
bom que chegaram, garotas. ― disse Misato. O tom de voz grave desta
já era conhecido de toda a tripulação da Cathas. Aquilo e seu
cabelo mais curtos, sempre preso eram sua maneira de portar-se desde
a morte do homem que amava, Kaji Ryoki. ― Temos uma grande
encrenca nas mãos e vocês são a nossa maior esperança.
― Pra
variar. ― comentou Asuka, se aproximando e fintando a animação de
menos de dez segundos. ― Não precisa nem dizer, isto daqui. ―
ela apontou para uma marca vermelha que avançava pela costa
continental exibida na imagem. ― É aquele Mark do qual nos
escondemos nas últimas semanas.
―
Exato. ― confirmou
Misato. ― E isso aqui. ― e apontou para uma cidade assinalada na
parte superior do mapa. ― É para onde esse Eva está
deliberadamente se movendo nas últimas quarenta e oito horas.
― E
ele está acelerando. ― informou Ritsuko. ― Vai chegar sobre a
última cidade da costa desse lado do continente em pouco mais de
cinco horas.
― Sei
que é repentino, depois dessas semanas de alerta, mas vocês vão
ter que enfrentá-lo. ― sentenciou a Coronel Katsuragi.
― Urgh.
Então vai ter que ser sem nenhum ensaio, né. . . ― lamentou Mari.
― Bom,
hora de mostrar que você é mesmo esse prodígio que se gaba,
Quatro-olhos. ― ponderou Asuka, voltando seu olhar para a outra
piloto. As duas se encararam por um momento e então a morena riu.
― Se
você estiver no posicionamento certo, eu saberei onde atirar. ―
disse Mari, colocando toda a sua confiança nas palavras.
Com
os motores no máximo o Cathas conseguiu chegar na distância
necessária para lançamento dos Evas 02 e 08 em quatro horas e
cinquenta minutos. Os dois robôs saltaram das suas plataformas e
pousaram nas montanhas do litoral próximo à precária cidade-alvo.
Os mechas correram a toda velocidade, contando com os quinze minutos
de autonomia das novas baterias instaladas nos seus modelos. Não
levou nem metade do tempo para que o Mark 02B surgisse ao longe, se
aproximando numa velocidade espantosa.
A
confusão das vozes na ponte de comando não estava sendo transmitida
para os robôs, fazendo ser apenas o som das passadas gigantescas das
unidades a única melodia presente. Claro, acompanhada de um murmurar
de uma antiga música romântica nipônica, da década de oitenta:
―
Então, o que vai ser,
Princesa? ― perguntou Mari, deixando a cantoria de lado. O seu Eva
08 estava levando uma imensa arma de protóns ligada a um cabo à sua
própria bateria. A autonomia prevista era de três disparos.
― Não
temos sequer um sistema sofisticado de auto-mira, então. . .Estava
pensando no esquema X-22HA do manual. Aquele da página 213. ―
disse Asuka, mais concentrada no alvo a meio quilômetro de
distância.
― Ein?!
Isso é uma piada?! ― indagou Mari, abismada. Ela livrou uma das
mãos dos controle da unidade e rapidamente abriu uma versão
holográfica do manual, redirecionando para a página indicada. ―
Ah, isso! Podia ter sido mais clara!
― E
como eu resumiria seis páginas de explicação em uma frase? ―
replicou a ruiva.
―
Complicado mesmo. ―
admitiu Mari.
― Está
comigo nessa, Quatro-olhos? ― perguntou Asuka.
― Com
certeza, Princesa. ― miou a morena, abrindo um sorriso felino.
Quando
o Eva inimigo chegou a duzentos metros de distância a Unidade 08
brecou a corrida, ficando para trás, levantando enormes camadas do
terreno. Então ajoelhou e sacou o imenso rifle de protóns:
― Em
posição! ― berrou a piloto.
―
Então, no “três”! ―
exclamou Asuka, preparando para um salto sobre o inimigo. ― Um!
A
Unidade 02 saltou sobre Mark 02B, mas o Campo AT deste impediu o
contato direto. Ainda assim a pequena massa quadriculada cessou seu
avanço diante do impacto. Sem perder tempo Asuka reverteu e golpeou
o Campo AT com toda a força.
“Dois”
Mari contou no pensamento. Sua mira estava pelo menos cinquenta
metros para a esquerda de onde os dois corpo estavam.
A
Unidade 02 golpeou mais uma vez, enfim partindo em pedaços a defesa
do modelo autônomo. Asuka sabia que precisava ser rápida. A Unidade
08 puxou o gatilho no momento do segundo golpe e o feixe de prótons
estava já vencendo a letargia da carga forçada. Tinha um instante
apenas.
Asuka
colocou todas as suas células naquele chute. Mark 02B voou para trás
sendo atingida e cheio pelo feixe que o explodiu em milhares de
pedaços. A explosão foi devastadora e a luz em forma de cruz
característica se ergueu com mais de duzentos metros de altura.
De
alguma maneira, haviam aplicado a tática baseada nas limitações do
rifle com perfeição.
Pela
primeira vez em muitos anos a organização Wille tinha o que
comemorar. Ainda que a série Mark 2 já tivesse se provado inferior
a outros modelos desenvolvidos pela Nerv nos últimos anos, era a
primeira vez que haviam visto uma unidade do inimigo cair. Então,
como não antes havia sido pensando ou permitido, quase todos estavam
simplesmente comemorando.
As
unidades 02 e 08 estavam inativas, aguardando o reboque, mas ninguém
parecia ter pressa para isso. As risadas e brincadeiras pareciam ter
tomado conta da mente de todos.
As
duas pilotos observavam a movimentação animada e quase caótica no
porto da precária cidade que haviam salvado, do terraço de um
armazém abandonado. Elas haviam sido resgatadas por um carro e
convidadas para se juntar ao momento de alegria dos lilin, porém nem
precisaram recusar duas vezes para serem esquecidas. Asuka estava
sentada no chão, observando a visão sem tanto interesse. Mari
estava deitada, o céu ainda azul refletindo nos seus óculos de
armação reta. Cantarolava uma música sobre uma história de amor
das mais bregas que a ruiva já escutara:
― De
onde você tira essas coisas, Quatro-olhos? ― perguntou.
― Já
disse que são músicas da minha época, mas você não parece
acreditar muito. ― explicou Mari, levando as mãos para apoiar a
cabeça.
―
Prefiro não acreditar
que a minha dupla tem uma idade muito maior do que as aparências
mostram. ― ponderou Asuka. As duas riram.
― Acho
que, depois de hoje, aquele programa 27 vai ser moleza de derrotar. ―
supôs a morena, voltando seus olhos para a figura invertida da outra
que tinha daquela posição.
―
Espero que todas as
simulações e batalhas reais se tornem moleza. ― disse Asuka,
séria.
― O
Primeiro Anjo não tem porque se mover agora. Então podemos nos
permitir sonhar um pouco. ― refletiu Mari, livrando uma das mãos
para gesticular. Qual não foi sua surpresa quando, aproveitando o
gesto, a ruiva segurou sua mão.
Um
gesto simples, contendo até um certo receio. Mari tentou ignorar o
quanto seu topor se embaralhou quando ambas entrelaçaram os dedos da
maneira torta que a posição permitia. Até mesmo a brisa do
continente não pareceu ficar indiferente, vencendo o vento constante
do mar sem vida, soprando para longe as máscaras que carregavam o
tempo inteiro:
― Né,
você vai estar sempre lá para me ajudar? ― perguntou Asuka, a voz
baixa. O seu olho saudável se virou para a outra, que a encarava. ―
Não vai, Mari?
Azul.
Um brilho incomum atravessava ambos os olhares coloridos com as
mesmas cores do céu:
― Claro
que sim, Asuka.
-
FIM -
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