Posted by : Unknown domingo, 25 de outubro de 2015

Como eu posso decidir o que é certo com você confundindo a minha mente? Esses versos iniciais da música Decode do Paramore, de repente conseguiram decodificar o turbilhão de processos e emoções que meu cérebro está tendo que lidar com determinada situação no qual me vi envolvida aqui fora.

Ao contrário do que possa parecer, eu não sou tão boa em transmitir em palavras o que estou sentindo. Não quando tento transformar isso em palavras orais que façam sentido. A tendência é que me expresse mal e cause uma tremenda confusão. Mas sou boa em escrevê-las no papel, elaboradamente. Quando mais nova, frente à minha dificuldade em expressar certas coisas profundas que sentia, minha psicóloga me aconselhou a escrever. Mas como escrever algo sobre como me sinto se não consigo transmitir isto de uma forma que faça sentido para outras pessoas? Foi então que ela me disse; “gosta de poemas? Escreva poemas”. Realmente, a poesia não te exige uma abordagem direta. Você pode ser turva, indireta, rebuscada, abstrata, utilizar de uma variedade de figuras de linguagem, e ainda fazer o arranjo textual ter sentido estrutural, ainda que tudo o que esteja ali estampado seja pouco lúcido. Assim, escrevi diversos poemas, alguns surgidos de altas febres. 

De uns tempos para cá ando precisando repetir a experiência, mas escrever poemas não me atrai como antes. A poesia sim, e esta pode estar em tudo. Eu queria escrever sobre determinada pessoa que faz parte do meu convívio aqui fora, no qual me relaciono com certa intimidade. Como não gostaria de me expor a tal ponto para ela, estruturar um romance ou conto foi a melhor ideia que me surgiu. Talvez eu faça isso! Sinto que é a maneira para deixar de me sentir sufocada. Não sei se vou conseguir, ou se acharei interessante o suficiente para compartilhar, mas é algo que me excita pelo simples fato de para mim – que não crio nada há anos – representar um desafio. 

***

O que me fez ficar pensando nessa doideira de escrever algo foi o filme Clouds of Sils Maria. Em sentido amplo, falho naquilo que se propõe, mas ainda uma experiência divertida e com ideias tão interessantes. O que importa nele mesmo é conflito lésbico que se desenvolve entre uma atriz (Juliette Binoche) e sua assistente (Kristen Stewart, sim, aquela do Crepúsculo). Depois de vários anos, ela decide reinterpretar uma peça que viveu durante a adolescência, só que agora ela está na casa dos 40 e se vê no desafio de viver uma personagem mais velha que é atormentada pelo charme e sedução de uma garota adolescente, que agora será vivida por uma outra atriz mais jovem (Chloë Moretz). 
Ensaiando para a peça, as duas personagens soam como o estereotipo clássico da "garota-príncipe/cavalheiro"

-"Helena tem 40 anos. É dona de uma empresa. Ela cai de amores por uma garota que não a ama. Ela é suicida. Ela é casada. Com filhos. Uma ótima vida social. E sacrifica tudo por uma garota. Ela é destrutiva".

-“Não há antagonismos. É a atração entre duas mulheres com a mesma ferida. Sigrid e Helena são a mesma pessoa. É uma história simples.”

-“Uma mulher madura se apaixona por uma garota traiçoeira, que a tem na palma da mão. A garota se aproveita dela, tira dela tudo o que pode, e a abandona. O amor de Helena por Sigrid a deixa idiota e cega para tudo que outras pessoas de foram enxergam de cara.”

-“Mas ela tem tudo o que sempre desejou. Ela fica fascinada pela própria queda.”

Sigrid é o inferno e o céu de Helena. Na história, a atriz e a assistente devem ensaiar o texto dessa peça onde uma mulher madura se vê presa na teia sedutora de uma garota menor, e não bastante apenas o fato de ter que lidar com uma recém-descoberta homossexualidade tardia, também precisa encarar o escândalo da relação e o tormento causado por uma garota ambiguamente misteriosa que não deixa o suficientemente claro o quanto é sinceridade do que é apenas um jogo de interesse – mas essa peça, revela também a face inexperiente e imatura de uma menina. Em meio aos ensaios, o texto emerge diversos fantasmas e conflitos não resolvidos na vida desta atriz, além de uma intensa e tempestuosa atmosfera de tensão sexual entre essa atriz e a assistente, também uma garota jovem misteriosa que parece esconder algum segredo, jamais confesso em voz alta. O cerne da história é que essa tensão nunca chega ao gozo de fato, fica sempre naquela provocação. O que por um lado é sensualmente envolvente, ver ambas travando um enlace psicológico de tesão e longas preliminares, mas por outro chega a ser um tanto decepcionante que isto não receba o seu clímax. 

Todo esse enredo é bem clássico na literatura lésbica e inclusive em yuris/shoujo-ai, especialmente os clássicos dos anos 70 a 80, com toda aquela provocação eclodindo e levando a um desfecho aterrorizantemente trágico. Os mangás yuris atuais não possuem mais essa característica pungente, a não ser através de um olhar mais leve, romanticamente idealizado – embora sim, existam alguns exemplares contemporâneos. 

***
Transit Girls, autointitulado primeiro dorama lésbico japonês

O aspecto proibitivo de uma relação entre duas mulheres era algo bastante comum nos anos de 1970, devido ao contexto cultural. De lá pra cá muita coisa mudou, felizmente. Os padrões culturais da sociedade também, embora ainda convivamos com o choque conflitivo de gerações, o que faz com que socialmente se identificar como LGBT seja como matar um dragão por dia. Mas certamente as coisas estão melhores que antes. Ainda assim alguns tropos que dizem respeito a certas características anteriores continuam seduzindo leitores. Se a literatura lésbica é ampla o suficiente para abranger uma variedade imensa de temas sem criar uma moldura em torno de si, o mesmo não se pode dizer de mangás voltados a este nicho. 

Parece algo incrível o anuncio de uma novela japonesa inteiramente lésbica, algo inédito até mesmo no Japão, afinal novelas são um meio muito mais maistream. Mas defensores dos direitos LGBT parecem preocupados com a abordagem, digamos, caricatural do tema. O que preocupa é a alusão ao relacionamento proibido entre duas mulheres (que a história justifica através de uma frágil ligação familiar existente entre as duas, no entanto, o que continua em voga é o velho clichê proibitivo da sociedade), além de reafirmar estereótipos do gênero, tais como uma das garotas de cabelo mais curto sendo representada como o “homem” da relação com trejeitos masculinizados, enquanto a outra, feminina em essência. 
O beijo real da soldada americana em sua mulher após retornar da guerra
Oh, bem. Qualquer um que leia yuri mangá sabe que este é o estereotipo mais clássico, que as garotas e os garotos mais amam e suspiram, e por isto o mais popular. E também sabem que o yuri mangá está muito longe de fazer uma boa representação acerca da comunidade lésbica. É contos de fadas, fantasia, em sua essência, ainda que se possa sim encontrar materiais que traduzam bem os conflitos reais de uma garota lésbica, mas não é suficientemente popular (mesmo porque, nem só lésbicas consomem yuris. Fora homens, existem um mar de garotas heteros japonesas que o consomem por ser fofo). Esse pode ser um assunto bastante polêmico, até mesmo para quem consume este material, mas é verdade que nem mesmo filmes conseguem escapar destes rótulos. Pensando por este viés, não parece justo que a comunidade lésbica japonesa reaja fortemente sobre isso? 

Você pode saber mais sobre isso em postagem aqui mesmo no KaS.

***

Em Clouds of Sils Maria este estereotipo de gênero não se mostra idealizadamente, apesar de a personagem de Kristen Stewart ser claramente avessa ao padrão clássico idealizado da mulher (ainda assim, o texto da peça que elas ensaiam é bastante clássico neste sentido). 
esse ainda é um blog respeitável, então fiquem apenas na curiosidade
Mas isso pouco importa neste filme e sim o quanto a personagem da Kristen Stewart faz uma lésbica maravilhosa, mesmo que ela jamais confesse isto – oh, mas você sabe, há algumas mulheres que a verdade está refletida no olhar. E eu não sei o quê, mas ela está tão linda e expressiva neste filme, sem falar que extremamente sensual e naturalmente provocativa. Vou confessar que ela me deixou subindo pelas paredes. Yeah, no maior tesão.

Agora, não que seja bonito fazer fofoca da vida alheia, mas talvez o fato de Kristen convencer tanto como lésbica no filme é que na vida real, apesar de não declarar, ela já ter sido flagrada nos altos amassos com uma mulher, ao qual justificou ser “sua amiga”. Amo. 

***

Em tempo, sei que estou sumida, mas tantas coisas aconteceram na minha vida neste ano de 2015 que foi impossível de manter o controle, até mesmo meu blog principal sofreu bastante com isso. Mas finalmente parece que estou conseguindo reaver o controle desta carroça. 


4 Responses so far.

  1. Comecei a ler e pensei "valha, achava que tava no KaS, mas isso tá a cara do ELB" kkk, mas depois se ajeitou.

    "esse ainda é um blog respeitável, então fiquem apenas na curiosidade" Eu ri, se fosse o ELB tinha altas pepekas, né?

    Ótimo texto, como sempre, grande Beta. Vê se dá mais aparecidas por aqui.

  2. Anônimo says:

    Quem era a soldado na foto?

  3. Unknown says:

    Desculpe a demora senhor anônimo, agora que vi sua pergunta. Respondendo: a soldada Sabryna Schlagetter em retorno do afeganistão e sua esposa Cheyenne Nicole Schlagetter

  4. Unknown says:

    Valeu Alain! Vou tentar, heheh :D

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